

A – Sinto-me aliviado em poder enfim realizar tudo o que realmente importa em minha organização, que é a vontade de meu superior.
B – Qualquer coisa que interrompa a monotonia do meu ato de trabalhar será bem vinda.
C - Tenho ímpetos de agredi-lo(a). Limito-me a salientar a insignificância e a impertinência da requisição por meio de algum comentário irônico.
A – Me auto-flagelarei e depois jogarei uma salmoura em cima se meu superior imediato sentir qualquer traço de arrogância em quaisquer de minhas servis atitudes.
B – Arrogância não combina com a retidão espiritual de meu caráter perfeito.
C – Esses miseráveis não tiveram de mim nem um décimo do que merecem.
A – É ser insuportavelmente insubordinado, como tantos que eu conheço, indiferentes ao amor absoluto que devemos sentir pelos nossos superiores diretos.
B – Algo completamente avesso à extrema modéstia e profunda humildade que fazem parte da grande excelência do meu perfeito ser.
C – É ser eu cuspido e escarrado, não nego. Sofro pouco sabendo como sou, e tenho consciência tranqüila de que a incompetência encontra vários subterfúgios para se melindrar contra a verdade que não suporta.
A primeira parada gay de Andradina partirá de frente ao shopping, perto do grande sutiã, marco da cidade, para os desavisados que passam pela Rondon. O horário mais conveniente é o final da tarde, já que o trajeto pela Avenida Guanabara logo depois do almoço é muito quente e ensolarado, e ainda mais por ser uma subida, faria grudar as plumas das echarpes no suor dos nossos pescoços.
O público estimado para o evento é de cerca de dez mil pessoas, entre gays, lésbicas, transexuais, travestis e simpatizantes. Embora a cidade certamente conte com o número estimado de entendidos entre seus habitantes, o sucesso de tal parada será devido à posição central de Andradina em relação às outras localidades. Virão bibas de Murutinga, Castilho, Itapura, Mirandópolis, inclusive da colorida Ilha Solteira, cuja cena gay tem potencial para fazer frente até mesmo a Três Lagoas, onde já há alguns bares LGBT se estabelecendo discretamente. A verdade é que as gerações de pessoas que engrossam a população diversificada da Terra do Rei do Gado ainda se escondem no aconchego da sala de bate-papo, em que Andradina se desponta como um grande centro de convergência, em que as mais enrustidas se poupam dos riscos da exposição de sua bichice interiorana. A partir da incorporação da parada gay de Andradina no calendário de eventos da região, novas atitudes com relação à identidade que já existe vão se desenvolver entre a população que se mantém no armário.
O desfile de trios elétricos e tropas de peões seminus montados em alazões imponentes, remontando os carentes tempos dos pioneiros, distantes de suas famílias, desbravando as matas fundas desses sertões, seguirá até o Centro Cultural, onde haverá a concentração, com a execução da versão dance do hino de Andradina, DJs, shows de drags convidadas de grandes centros, como Araçatuba, além de gogo boys indicados pela própria cultura.
É certo que as primeiras edições do evento ocorrerão patrocinadas com verba pública, mas em breve toda a renda proveniente da única forma de turismo que dará certo nesta árida noroeste, despertará o interesse dos empreendedores locais, que disputarão exclusividade nos investimentos em atendimento especializado no ramo.
Bibas de Andradina! Vocês sabem exatamente o quão divertida a sua vida pode ser? Imaginar já é um primeiro passo para que aconteça: parada do orgulho gay de Andradina, já!
Me deu uma coceira nos últimos dias. Vontade de tomar umas cutucadas no facebook. Nunca cutuquei uma pessoa sequer na ferramenta. Sempre achei inúteis os botões de cutucar ou sacudir, porque eles nada dizem. Há muito pouco de humano em ver num canto da sua página inicial que alguém cutucou você. Mesmo assim, aos poucos, a gente vai entendendo as pequenas demandas que se insinuam em cada cutucada, ao ponto que elas, de certa forma, servem para elencar quem está carente de uma resposta adequada da sua parte. Ainda assim, mantenho a elegância de não cutucar nenhum outro perfil.
Acontece que num segundo de ócio, postei que eu me sentia um queijo suíço de tantas cutucadas que levava, como se realmente fossem tantas assim. Meus amigos hoje estão muito mais ocupados imaginando o que tantas cutucadas desconhecidas significam. No meu caso, o espirituoso protesto no facebook me rendeu todos os cutucões, que eu nunca tinha levado, de quem nunca havia me cutucado antes, apenas curtido meus comentários e links. Senti um pouco do conforto que a notificação de alguém curtindo algo meu já estava me proporcionando, mas a artificialidade de todos esses botões padronizados permanece, como quando, num desabafo de algo ruim que você esteja sentindo compartilhado no face, ou de algo catastrófico que as pessoas tomem conhecimento de você, pela sua própria disposição de ficar contando, você acaba se deparando com uma série de dúbias curtições: será que o botão foi usado por simpatia à nossa dor, ou o nosso pesar parece realmente ser curtido por alguém, entretendo-o de certa forma?
Não é para isso que a coisa serve? Tirando todo o potencial corporativo, institucional, mobilizador que as mídias sociais carregam consigo, do que não passam para a maioria dos seres viventes do que mera fofoca on-line? Uma fonte inesgotável de mal-entendidos, como toda linguagem, um risco para a segurança pessoal e patrimonial de quem se expõe de forma inconseqüente, um veículo de assédio, bullying, difamação e calúnia, como todos os meios de comunicação são potencialmente; como todos os humanos são potencialmente monstros, conforme comunguem o que trazem no íntimo; como cada cidadão se converte em líder, conforme tenha adesão aos seus pleitos; como cada pessoa se transpõe em anjo, conforme faça de suas palavras instrumento de algo divino.
Assim é que nadamos conforme a correnteza de forma aconchegante junto à massa de quem dependemos para a vida em sociedade, por mais que você não tenha 228 amigos, por mais que ninguém lhe responda o “bom dia” escrito da mesma forma que o “bom dia” falado, por mais que quem curte seus links nem sempre os lê ou os vê ou os entende. Algo restará de nossa presença física quando seu computador der pau, quando seu dispositivo móvel for roubado, quando a banda larga mundial entrar em colapso e você precisar inevitavelmente remover suas nádegas da frente do computador para conseguir o que deseja. As coisas não eram assim antes e não serão assim amanhã, portanto se cutuque, para o bem de quem você realmente é, e não deixe de twittar para sempre em sua mente o porquê de você ser quem você é neste mundo que ainda não está totalmente digitalizado em sua indigitalizável complexidade.
texto gentilmente concebido para a revista andradinense FALA, de outubro
Assim disse o GADA: Não vai ter parada. Você, que já tinha se programado e antecipado o pagamento do ônibus da excursão de Andradina para cá para se garantir, vai poder bater lá na porta do GADA para ver para onde eles te mandarão. Mas, positivamente falando, a ausência de uma parada em São José do Rio Preto em 2011 (o que certamente faria toda bancada evangélica feliz, assim como traria conforto à PM tão cheia de responsabilidades mais edificantes do que se certificar que uma legião de bibas não estarão se fazendo nos matinhos vicinais, enquanto o Araquetu toca deixando todo mundo tremendo que nem pipoca) nos convida a conceber formas alternativas para um evento tão importante, que deu origem a este blog, e que depois de uma série de embates, vai indo por água abaixo sob as chuvas do fim do ano para onde ela seria adiada caso sequer ocorresse. Há o que ser feito para que você não perca a oportunidade de manifestar aquilo que você esteve e estaria lá para manifestar?
Pensando em todo o trabalho que dá fazer uma parada no mundo real, as ferramentas de simulação da internet são uma boa alternativa. Uma Parada no CityVille com certeza mobilizaria muito mais pessoas, algumas das quais com medo de mostrar suas caras em público. As mídias sociais já têm sido usadas pelas inconformadas de plantão, reclamando, acusando e cobrando. Na prática, a sociedade em geral ainda não dá tanto pela falta da tal parada. Mas um flashmob certamente levaria algumas pessoas de boa vontade, à exemplo do Vergonha Rio Preto, manifestar o orgulho e defesa da diversidade, se isso realmente for de interesse de ao menos parte da sociedade, mesmo que não haja tanto glamour, 80 mil pessoas, etc. Virtualmente, tal empreendimento também ficaria prejudicado por conta da avareza dos interessados, que certamente restringiriam as moedas, mesmo que do CityVille para o trio elétrico, para o patrocínio, e se há dinheiro público para se fazer a coisa, a regra é sempre a apresentar menos do que poderia ter sido.
É para onde serão exiladas aquelas que não conseguiram empreender a coisa nessa complexa megalópole. O evento genérico certamente servirá de palanque para a comprovação de que a verba existe e que deveria ser utilizada neste ânus. Ao mesmo tempo a situação será confortável para a grande maioria do público gay desta região, a própria localização da boate LGBT de Rio Preto assegura o seu sucesso, longe do perímetro urbano, ao lado da zona, onde os freqüentadores podem sentir o aconchego de um esconderijo a salvo do julgamento do público. Desta forma, Bady também será um refúgio para quem não pode, não conseguiu, mas também para quem não iria de qualquer forma de jeito nenhum a uma parada gay em São José do Rio Preto, com medo de quebrar seu próprio filme.
RESPONDA AO QUIZ DA PARADA GAY DE BADY BASSIT NOS DIFERENTES ASPECTOS:
A) Para quê sair do seu conforto dominical até a parada de Bady?
B) Que tipo de encontro você espera travar em tal festa?
C) Pelo quê você não espera definitivamente ao ir à parada de Bady?
Pergunte-se para que é que serve uma Parada Gay. Pergunte-se se ano após ano, vemos algum avanço na obtenção de igualdade entre gays e héteros que possa ser relacionado à toda essa pourpurina jogada para cima. Vemos lideranças dentro deste seguimento se acusando e se combatendo enquanto o preconceito e a discriminação permanecem nas vidas de todos. O único lugar onde parece não acontecer é na própria parada gay, onde todos desfrutam de algumas horas de ilusório conforto. Faça uma listinha de pessoas importantes na sua vida para quem você deva se assumir, sair do armário e impor seu respeito devido. Faça. Uma vez cumprida a tarefa, desfrute de sua liberdade num dos três ou quatro locais da cidade feitos para gente como você. Quando sentir-se confiante suficiente, apareça nos outros trocentos lugares da cidade com a mesma atitude, disposto à responder elegantemente às diferentes reações. Manifeste-se. Comente. Abra-se. Se ainda após tudo isso, faltar uma grande mobilização nas ruas para celebrar tal felicidade, empreenda uma, chame seus amigos, organize-se. Celebre, dance, comemore, mostre a todos quem você é e quão feliz você se sente. Defenda seus direitos e daqueles próximos de você. Orgulhe-se de você mesmo e faça com que alguns também tenham orgulho de você, não só por ser gay, mas simplesmente por ser você.
A - NÃO PEÇO NEM A BÊNÇÃO PRO MEU PAI NA FRENTE DA GALERA
B - BEIJO UMA RACHA
C - FAÇO VOZ DE BOFE E CAMINHO COMO SE ESTIVESSE COM ASSADURA ENTRE AS COXAS