domingo, 17 de julho de 2011

FIM DO DESLIZANTE UNIVERSO DO FIT


O Universo deslizante do Duque Hosain'g, da Automakina de Pernas Pro'ar fica muito muito muito longe mesmo. Pra lá da Zona Norte. Há quem, na décima primeira edição do FIT, ainda não tenha aprendido a usar o google maps para descobrir aonde a Prefeitura decidiu exilar os grupos que rebocam dos mais diversos pontos do Brasil. É claro que a intenção aqui é o que conta, e funciona. Se eu comparar a cidade onde eu nasci, no Paraná, que tem o mesmo tamanho desta, onde obras de tamanho engenho, de grandiosa arte e de inquestionável poesia não tomam as ruas de forma tão institucionalizada, verifica-se que a população em geral entende a palavra "teatro" como sendo um prédio construído especialmente para "esse tipo de coisa", e único lugar imaginável para isso. Aqui, não. Desde muito cedo os rio-pretensiosinhos vão aprendendo o verdadeiro significado, mais verbal, do termo teatro. Isso é uma vantagem muito mais concreta em relação a outros centros e nos expandem a abertura das janelas que abrimos para perceber o mundo.
Falando em janelas, falando em entender o significado das palavras, fomos na mesma noite ao SESI aquendar a fascinante viagem dramatúrgica do espetáculo de Portugal. No vídeo abaixo, Tiago Rodrigues, seu criador e ator, fala sobre alguns dos temas que ele aborda. Preste atenção quando ele diz o que propôs sobre os políticos.



Mal sabia ele que o deputado mais votado da história do nosso país ganhou as eleições justamente afirmando que não tinha a menor idéia do que se faz um deputado. É ou não é? Será que nós no Brasil somos assim tão surreais ou a dramaturgia foi modesta demais ao jogar o suposto impensável na tela de um telejornal real? Vale dizer também que aqui no Brasil temos uma das melhores dublagens do mundo, o que não desmerece a impressionante performance do grupo. Embora algo que talvez seja mais profundo em termos de experiência reflexiva seja escolher que tubo de iogurte levantar a mão para pegar. Foi uma piadinha de português sobre nós, quando ele jogou de volta na caixa a garrafinha do honesto, supondo que não haveria nenhum numa platéia brasileira. Ele está no direito dele, se pensarmos no que de anedotas a literatura abunda sobre essa nossa relação tão fraterna com os amigos d'além mar.


É dessa forma, finalmente, que nós, brasileiros, portanto, acabamos por nos identificar com o Till, do fechamento do FIT 2011, pelo grupo Galpão. Heróis tortos capazes do impensável e do fantástico, tamanha essa nossa lábia e essa capacidade de dar jeitinho naquilo que parece sem solução. Nossa nação tem crescido sobre bases cada vez mais sólidas da desonestidade institucionalizada, da corrupção obscena e do desrespeito escandaloso sobre o direito do próximo. Haverá quem resgate nossa consciência do inferno? Como será que levaremos para casa todas essas coisas sobre as quais a gente tem o glamour de debater nessas ocasiões tão solenes, como o FIT, e tão vitais para o futuro e para o crescimento de todos nós? Por falar nisso, desta vez conseguimos chegar à represa a tempo de pegar o churros fresquinhos.
Bacana que exista gente em Rio Preto pintando as telas e a cara, panfletando, protestando abertamente, tentando tomar um outro caminho. Infelizmente, o teatro descansa para a maioria, mas há quem vislumbre para o futuro, por causa da demanda, um interminável FIT, constante ao longo do ano todo, mobilizando milhares de grandes e pequenas companhias todos os dias em todos os teatros e espaços da cidade, soterrando Rio Preto de turistas em todas as temporadas, espichando o centro verticalmente com hotéis de luxo, padrão, pousadas e o escambal, fazendo deste lugar um surreal palco nacional, digno de figurar inexplicavelmente nas manchetes de um jornal como o de SE UMA JANELA SE ABRISSE, do Mundo Perfeito.

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