domingo, 10 de julho de 2011

PRA INGLÊS VER

Você não faz idéia de como é a vida lá no Irã. Nem eu. Mergulhar na trama de WHERE WERE YOU ON JANUARY 8  envolve uma série de descobertas sobre um mundo muito muito muito diferente do nosso, num incidente que tem lugar numa noite de neve num ensaio em um campus, donde uma "peruca" desaparece. É preciso agilidade para acompanhar o dinamismo dos diálogos ao celular (os nossos tiveram que ficar desligados) naquelas legendas que diziam tão menos do que a gente sabia que eles deviam estar dizendo naquela língua que não conseguíamos entender. Dividíamos essa sensação com a outra metade da platéia, que víamos logo de frente, em arquibancadas que limitavam uma cena retangular e comprida, repartida em três gomos por banquinhos e com projeções em cada um de seus extremos. Tínhamos quatro pontos disponíveis para lermos legendas, dois para cada lado da platéia. Alguns da platéia, esqueciam das legendas e fingiam que estavam entendendo, outros dormiram, a maioria fez uma viagem individual rumo à sua própria compreensão da peça.
Dispor de teatro para entender a vida de um jovem naquele lugar tão diverso, donde o teatro há pouco era banido política e religiosamente, envolve consumir uma tradução sofisticada para o teatro ocidental de uma cultura de manifestações artísticas provavelmente ausentes nesta performance. Interpretações realistas carregadas de uma tensão contida por uma atmosfera ditatorial, em que este texto, trunfo do espetáculo, teve de ser autorizado.
Por um crivo semelhante teve de passar o defunto de uma travesti no curta OS SAPATOS DE ARISTEU, que você pode assistir no Porta Curtas clicando aqui. Neste caso, é a família da trava que recebe o corpo todo preparado para o enterro pelas amigas, e decide, de uma forma muito mais arbitrária do que esse temido governo do oriente médio, que ela será enterrada como um homem. Novamente, vemos um conflito próprio de um lugar como o nosso, que talvez outros não compartilhem. Em ambos os casos, filme e peça, vemos, seja no enredo, texto ou estética, o disfarce que a identidade da gente às vezes tem de se cobrir para poder traduzir para o mundo o que nos vai lá por dentro. O último filme a que nos referimos fará parte da Mostra Interiores. A peça iraniana nós aquendamos anteontem, no FIT 2011.



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