Quem se deitou na grama ao pé da caixa d'água à frente das cadeiras espalhadas atrás do Centro Regional de Eventos esta tarde teve uma visão bem diferente da nossa. Algo como se estivessem vendo a peça de frente, como se o chão em que as bailarinas pisavam estivesse mesmo na horizontal. No muro do SESC, um grupo de curiosos deixaram as suas atividades para ficar conosco hipnotizados pelas imagens vertiginosamente antigravitacionais da CASCA DE NÓS, da Cia dos Pés, que com seu caráter vigoroso e virtuoso, tem produzido algumas das coisas mais originais em termos de estética que se podem aquendar no teatro desta terrinha. Quem os acompanha, sabe que eles estão mais do que preocupados em pesquisar novas possibilidades dentro de algo absolutamente marcante e extremamente esgotável. O sol desta tarde impossibilitou a iluminação concebida para o espetáculo noturno, que não fomos ver, mas que em nada faltou diante da luz tão apropriada para o texto que tratava destas aconchegâncias.
A caída onírica de flores e fitas, os tules das bailarinas, as coreografias flutuantes, tudo isso se sobressai ao inevitável equipamento de rapel deste, de um anterior e quantos outros espetáculos a companhia encenar sobre o mesmo confortável palco. Vou soprar a dica de introduzir as inevitáveis cordas na dramaturgia do espetáculo, ou fazer daquele complexo mecanismo um adereço importante como o buquê, ao contrário do que seria um microfone, ou uma joelheira que se tenha que esconder. Todos esses ganchos e nós e cordas podem contribuir com significado, seja simbolicamente como tem preferido teimosamente o grupo no uso de seus elementos, seja na reconstituição de situações de realismo trágico ou mesmo fantástico, a que o grupo talvez tenha um inusitado potencial.
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