quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

DOOUTRO LADO DO PANO

Do jeito que havia chegado a menos de uma hora antes do início do espetáculo, esperava ter que comprar os ingressos extras. Surpreso, descobri que havia ingressos regulares disponíveis, o que não quer dizer que eu tenha assistido ao espetáculo sentado porque algumas cenas anteriores à peça valiam a pena levantar-se:

crianças tentam distrair-se durante o pequeno atraso da peça

Tentamos nos concentrar um pouco mais nesta porque não havíamos assistido anteriormente. Falhamos. Acabamos nos perdendo na identidade do professor de inglês que trouxe uma caixa de desejos chamando-a de "box of desires", quando eu escolheria a palavra "wishes", e a do próprio Lewis Carol, que surge puppet minúsculo no início da peça e sai voando hipnotizado em direção ao país dooutrolado, juntamente com os irmãos Bruno e Sílvia. Penso que misturei um pouco as coisas, mas a peça em si é uma trama genérica baseada em Alice no País das Maravilhas. O adulto que existe em mim não curte muito o tipo de estória que se passa num mundo de fantasias porque os conflitos nunca são sérios suficiente para causar um temor sincero no público. A fantasia é tudo. Harry Potter, Lord of the Rings e outros filmes e contos do gênero me entediam por causa disso: nas batalhas sempre há uma forma do mocinho ferido mortalmente voltar à vida para garantir o final feliz, a minha caretice nunca me deixa apreciar a resolução desses problemas pré-resolvidos. Por outro lado, a criança que existe em mim, sabe que a ausência de tais questões requer da obra uma profusão de imagens, cores, movimento e sensações que o espetáculo, talvez propositadamente, economizou. Alguns dos elementos cênicos, como o regador gigante, a árvore com espelhinhos, o guarda-chuva-canoa, o próprio figurino, são lindíssimos, mas não constituem o que deveria ser a cenografia do espetáculo. Encantamento custa, e uma vez que os figurinos e adereços tinham cores e formas, como o texto continha descrições de cores e formas, tínhamos que vê-las, ao menos simbolicamente. Pobres das mães que têm de retirar seus bebês às pressas da platéia para que não incomodem o público com seu choro: pavor perante uma escuridão sem fim.

Isso não tira o mérito dos protagonistas da estória, atores da terrinha que, até o momento, chegaram o mais perto do que é um personagem criança do que outros grupos mais tarimbados. Testemunhamos o início de um processo que pode ainda render muito mais, e mantendo-se na estrada, pelo andar da carruagem, certamente estarão participando do próximo "Em Janeiro Teatro para Criança é o Maior Barato - Apenas R$ 1,99" em 2012, se até lá o mundo não acabar ou se o preço dos ingressos para as peças não aumentar.

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