terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ECLIPSE DRAMÁTICO

O teatro vai ficando mais confortável, os lugares mais fáceis de encontrar, a platéia fica mais rarefeita, o evento se aproxima de seu final. É o crepúsculo do dia 1,99 de 2011 , ou a alvorada para o sonho noturno desse teatro infantil local. Em Sol&Lua, algumas crianças e adolescentes descobrem o peso do teatro, espantam-se com seu tamanho, talvez reparem nas gargalhadas do público e reflitam no que as causa.
Assisto ao espetáculo de tais descobertas com uma curiosidade quase científica, pedagógica, como quem investiga o que impede os verbos de concordarem com seus sujeitos nas boquinhas dos meninos, ou os adjetivos com seus substantivos. Me faz pensar também sobre o que nos impede de legitimar o nosso próprio sotaque do interior paulista sobre o palco, e por que tal modalidade que carregamos conosco no cotidiano nos desagrada tão profundamente em cena. É parte de um feitiço de uma bruxa muito má que quis separar para sempre a realidade de tais meninos do mundo de sonhos de onde foram arrancados.
Me impressiona aquilo que eles trouxeram de mais expressivo - um cantar moço, sincero, pedaço do mundo onde estão imersos, pop, reggae, hip hop, algo que se impôs sobre as bolinhas de isopor, sobre a marcação com movimentos desconectados de sua intenção, sobre as plumas, sobre a delicadeza feminina indisfarçável do Rei da Noite, sobre a descoberta do próprio corpo por ninguém menos que o grande São Jorge ou a impossibilidade de se ouvir os violões das canções que executavam. Tais circunstâncias se tornaram mais raras após a extinção do módulo com espetáculos do projeto Ademar Guerra da programação do FIT. Nos alegra que a Associart tenha essa abertura para a diversidade em seus eventos. Agredecemos, mas sabemos que não falamos em nome do público.


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