quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

MOMENTO DE SUSPENSE COM O GRUPO FARSA


O Grupo Farsa, de Porto Alegre, brindou a platéia do Janeiro Brasileiro da Comédia da última terça-feira com o momento do mais ímpar e magnífico suspense desta edição, quando após uma clara oscilação do CD que continha o playback das canções que eles cantavam ao vivo, dois dos mais jovens atores do grupo se viram na urgência de solar a capela uma canção que trazia na letra uma reviravolta importante na trama picaresca de sua tradicional versão da peça de Molière.
O terror veio natural à platéia, como quando um trapezista cai por uma corda que se arrebenta ou uma dançarina vai abaixo com um palco que cede. Num primeiro momento, pensamos numa licença musical que introduziria um momento hip hop no minueto do espetáculo. A cena continua, o som cessa, para novamente voltar a tocar do início com o mesmo breque de CD riscado. Silêncio. Ouve-se o gemido do experiente criado de Harpagão lançando para os dois solistas a nota com que deveriam começar a melodia. O galã avança e começa confiante arrebatando o público com sua bravura enquanto a mocinha se deixa contagiar pela mesma garra. A platéia tenta ajudar com as palmas. Atrapalha, porém pouco importa, atores e público compartilham um momento de uma adrenalina cúmplice, ficando claro o calor, cavalheirismo e generosidade da platéia rio-pretense.
É óbvio que nunca tais circunstâncias poderiam se dar se não ocorressem inadvertidamente em meio a uma performance encantadora de um elenco lindíssimo, afinado e talentoso que fazia iluminar aquilo que de mais brilhante o espetáculo trazia: sua direção, seu ritmo, seu tempo milimetricamente aproveitado para dar à platéia a experiência de viver um dos grandes clássicos do teatro universal de forma tão digna, de ter a impressão de estar vivendo naqueles tempos do Rei, em que um lapso da natureza do que ocorreu com o som poderia resultar no guilhotinamento de alguém, talvez o sonoplasta, talvez o diretor. E é por isso que nossa repreensão também vai para eles, que não façam isso com o coraçãozinho dos pobres atores, invistam numa mídia mais confiável.

2 comentários:

  1. Olá! Em nome do grupo agradeço a receptividade de SJRP, trata-se de um público carinhoso que aceita a troca de energias em cena colaborando para apresentações memoráveis. Quanto ao episódio do cd, como criador da trilha sonora e ator, apenas corrijo que não é playback (onde há vozes gravadas na mídia) e sim base instrumental gravada, todas as músicas são cantadas pelos atores ao vivo. Imprevistos ocorrem, como se resolvem tais imprevistos é o que diferencia as pessoas, e com a ajuda da maravilhosa plateia o grupo fez uma linda "a capella", em um momento emocionante daqueles que só quem presenciou sabe. Quanto a investir numa mídia mais confiável, agradeço a sugestão, porém informo que trabalhamos com alto padrão de qualidade em nosso material técnico, e por mais que tentemos cercar e "prever imprevistos", sempre acontecerão situações onde os atores deverão improvisar com o ambiente: trata-se da efemeridade do teatro. Por isso teatro é tão apaixonante, é único. Cada apresentação é unica. Obrigado pelo carinho, esperamos voltar várias vezes nos festivais de São José do Rio Preto... A contar com a recepção do público, a recíproca é verdadeira. Abraços! Visitem nosso blogs: http://oavarento.blogspot.com e http://gfarsa.blogspot.com

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