foto gentilmente usurpada do facebook do Ricardo Boni, que também esteve lá
Conosco e com a numerosa platéia do Janeiro Brasileiro da Comédia acotovelaram-se centenas de bibas posers, ansiosas por ver ao vivo aquilo que até então só conseguiam compartilhar pelo YOUTUBE ou por cópias piratas das cópias piratas das amigas. É certo que o domingo e o fato do ingresso ser de graça ajudam a estabelecer a muvuca generalizada, mas havia sim um quê de tietagem diferente da que se espreita no teatro daqui em eventos deste tipo. Há uma hora do início da peça, abrem-se as portas e as pessoas esparramam-se pela platéia demarcando os melhores lugares com suas nádegas. Nádegas inquietas começam a procurar o melhor lugar no chão, no colo de alguém, nos cantos, nas beiradas. O teatro está completamente lotado e as pessoas não param de entrar. Claustrofobia.
A organização erra no vídeo a exibir-se antes para distrair-nos. Acho que a Cher agradaria mais. Por fim, as bibas que esperavam rir das mesmas piadas que já tinham de cor não se decepcionaram. Com algumas variações, Agnes Zuliani e Roberto Camargo fizeram a platéia rir até do que não pretendiam, tamanha a receptividade do público. O exercício de dramaturgia que é o stand-up é executado de forma brilhante, mas os 55 minutos que a peça tinha no programa foram na prática 1h45min, para formigamento das bundas do chão e cansaço do público. Faltou uma cervejinha e uma porçãozinha de provolone, alguns foram embora antes, infelizmente um número insuficiente de pessoas para que terminassem todos sentados. De quem se perguntar ouvir-se-á a resposta de que a peça foi muito engraçada, mas cansativa.
Ainda assim, existe nesse humor aparentemente cru e visivelmente esgotável enquanto espetáculo um dinamismo e uma flexibilidade temática que só a passagem por vários profissionais diferentes nos permite observar, e que transforma tal comédia num instrumento poderosíssimo de crítica social, política, comportamental e ideológica muito mais contundente do que o dos grupos que se perdem na pesquisa histórica e estética. Todos têm o seu mérito, mas é a atitude do público, que nem sempre reflete seu gosto, que sufoca a produção de coisas diferentes, originais e que fazem pensar. É esse movimento tolo de seguir uma massa sem saber o porquê. Falando nisso, segue a gente, gente. No twitter também @Rotativas
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